O que é Teatro Social

O QUE É TEATRO SOCIAL


O Teatro Social é uma realidade cultural, social e profissional muito ampla, que compreende intervenções que respondem a uma óptica de promoção e de desenvolvimento de comunidade, como apoio a processos de empoderamento individuais e coletivos e como formas de pesquisa expressiva e comunicativa a partir das identidades dos grupos.

Fazer Teatro Social e de comunidade significa trabalhar por meio de uma modalidade projetual específica, tendo competências múltiplas tanto de tipo expressivo-artístico, quanto de tipo psico-social e específicos conhecimentos sobre as dinâmicas institucionais e de comunidade.
É uma forma de renovar a ligação entre arte e real, entre comunidade e teatro reabrindo uma pesquisa artística a partir de concretos universos realcionais e expressivos.

No Teatro Social o jogo do teatro é também e sobretudo um jogo do espírito, ou seja uma possibilidade de construir relações de convivência segundo uma ordem de humanidade que transcende do lado puramente individualístico, para recriar o espírito do homem.
O Teatro Social é por isso um teatro civil, ou melhor um teatro de valores, mas diferente do teatro político: não têm verdades ideológicas para afirmar, mas verdades das relações humanas para praticar.
Fazer Teatro Social é uma prática tanto mais eficaz quanto mais se enraíza num compromisso antropológico para o homem no seu complexo.

O Teatro Social é um lugar privilegiado para promover mudanças nas relações de comunidade: como funcionam as relações na escola? Para qual outra possibilidade de relação podemos ir? Em que maneira  é possível fazer isso? Podemos trabalhar simplesmente com uma turma de alunos, mas tendo a consciência que estamos trabalhando no pequeno, em prol de uma ação grande.

Por meio dessa abordagem de sistema (por exemplo um escola) derivam as características do método de trabalho do Teatro Social, ou seja: as necessidades de:

- Trabalhar em equipe e em parceria (por exemplo com a diretoria da escola, os professores, as instituições públicas socio-educativas, etc.).
-  Integrar competências psico-sociais (por exemplo relativas aos adolescentes) com competências performativas, definidas em relação ao tipo de pessoas com as quais trabalhamos, as suas capacidades expressivas e potencialidades teatrais.
- Estruturar o projeto em fases, cada uma com objetivos específicos, com particular atenção à verificação in itinire e final.



POR QUE SE FAZ TEATRO SOCIAL
A finalidade geral de um projeto de Teatro Social está na experiência relacional e simbólica das pessoas que estão envolvidas nela. Se trata de favorecer processos de transformação e de empoderamento da identidade pessoal e na dimensão da relação com o outro.

Na pluralidade dos signos e de códigos teatrais, redescobrir uma dimensão integrada de corpo, imaginação, emoções e pensamentos. E fazer acontecer isso tanto aos indivíduos, quanto ao coletivo. Construir processos culturais e civis valorizando a dimensão criativa como condição de bem-estar. O trabalho do Teatro Social neste sentido é também uma ação antropológica, ética e política orientada à constituição de comunidades solidárias, capazes de sonhar e criar transformação.

Sobretudo quando se trabalha com grupos e pessoas que vivem uma condição de exclusão social, o trabalho do Teatro Social parte da escuta da necessidade de afirmação de si, da vontade de um reconhecimento social que pode também passar por meio de atos fortes. Se tratará então de encontrar por meio do “como se...” teatral, da criatividade artística, as formas adequadas para que também as experiências de vida negativas de um grupo encontrem uma metáfora simbólica eficaz a exprimir, conter e tornar elas comunicativas e transformativas em respeito à relação de comunidade. Trabalhar com a diversidade (ou, melhor, com a alteridade) e com a multiplicidade, significa também trabalhar com conflitos, mediações, com investimentos de energia muito elevados. Uma condição profissional que demanda grande capacidade de governance (gerência) de si e do trabalho.


COMO SE DESENVOLVE O PERCURSO
Para desenvolver um percurso de teatro social, o primeiro critério para nos orientar diante da complexidade do tema é a essencialidade na dimensão sistêmica do processo, no qual o facilitador vem a assumir diferentes papéis em relação a diferentes sujeitos – a pessoa, o grupo, a comunidade -  e às diferentes fases do processo.

Um papel importante é o do condutor: apesar do processo ser feito pelas pessoas envolvidas, a abordagem que o operador dá, a sua personalidade, etc. fazem muita diferença. É importante por isso que o condutor seja capaz de escutar, entender e inspirar as situações que ele está lidando, promovendo a participação e o entusiasmo dos participantes, sabendo lidar com os conflitos, com as emoções, as ideias e os desejos de transformação das pessoas, tentando leva-las mais para o plano do real, embora sempre ligado à dimensão do sonho e da poesia.

E é nessa poesia transformadora que o facilitador de teatro social tem que focar a própria presença, ajudando as pessoas para abrir os próprios corações e acreditar um no outro, com uma abordagem de cooperação e solidariedade, esperança e fé que um outro futuro é possível. Deve saber ajudar a abrir “novas janelas para o mundo”,  a partir das perguntas chave: “Quem somos? O que queremos fazer da nossa vida e da nossa comunidade?”.

Conduzir é uma palavra que vem do latim, da combinação de
-       Con, que indica duas áreas de atenção: a da relação (entendida como união, participação, ligação, interdependência) e a da intensidade, que caracteriza a ação à qual se acompanha o prefixo.
-       Ducere, que se refere ao movimento, ao dinamismo, sem definir, porém a direção.

Um processo de Teatro Social é assim um “Mover Juntos, dentro de uma imprevista encruzilhada de direções”: um processo que dificilmente segue um caminho linear, ou feito de passagens de causas e efeitos. O condutor introduz estímulos que terão êxitos que não podem ser previstos, abrindo assim estradas novas, dando atenção às dinâmicas que se criam.

Não pode fazer sair uma semente do terreno,
pode só dar calor, umidade e luz,
e depois deve crescer”
(Ludwing Wittgeinstein)

Calor, umidade e luz são energias que permitem a transformação e que a sustentam: elas não são a mudança, nem a semente, nem o terreno no qual a semente pode crescer e se desenvolver.
O terreno já está plantado e a semente já está aí.

Mas sem energia, porém, o crescimento não acontece, ou acontece de maneira limitada, limitando as possibilidades, destruindo ou ferindo. Um processo de Teatro Social é feito para intuir essa luz, umidade e calor, quando e como essas energias são necessárias.

Para poder fazer isso é importante combinar, para ter um olhar aberto sobre as pessoas e o mundo, diferentes técnicas:
-       pedagógicas
-       poéticas, artísticas e teatrais
-       sociológicas
-       psicológicas

Assim a prática do Teatro Social desenvolve enormes potencialidades das pessoas e das comunidades, nas dimensões teatral, social e afetiva. Em todas essas dimensões se desenvolvem outras visões e outros olhares, com muitos dégradés: a dimensão lúdica, a dimensão ritual, a prática comunicativa, a dimensão artística e a relação estética, as referências culturais e arquetípicas as estruturas narrativas, o desenvolvimento dos grupos e das pessoas, a corporeidade, o movimento, a relação, a comunidade, etc.


AS FASES
Um percurso de Teatro Social é um percurso de pesquisa e transformação, das pessoas e das comunidades, por meio de uma ação em grupo. Esse processo se desenvolve em fases organizadas em três pilares teóricos-metodológicos:
Eu sou (identidade individual)
Nós somos (identidade de grupo)
Nós fazemos (ativação do grupo)

DESMECANIZAÇÃO

Esta primeira parte é finalizada a pensar individualmente e em grupo sobre o como estamos presos dentro os nossos esquemas.
O nosso corpo está “mecanizado” dentro de esquemas de movimento e de ação que são socialmente condicionados. O espaço que nós usamos para os nossos movimentos e a qualidade dos movimentos que fazemos são condicionados por regras não escritas, impostas pela cultura.
Esta incapacidade de ser livres de nos mexer, influencia fortemente a capacidade de pensar livremente: um exemplo desse fenómeno é bem representado pelo filme: “Tempos Modernos” de C. Chaplin.
É necessário então re-descobrir os próprios sentidos, para sentir tudo o que se toca, escutar o que se ouve, dinamizar mais sentidos em conjunto e ver tudo o que se olha.

CONFIANÇA
A segunda parte do programa formativo se concentra sobre a confiança, em si mesmos e nos outros. Aqui se vai trabalhar com jogos-exercícios cooperativos, focalizados também no contato corporal: no grupo deve ter confiança entre os seus membros e a capacidade de se sentir a vontade também no contato respeitoso entre as partes do corpo. A confiança recíproca é o primeiro passo para integrar os membros do grupo e torná-lo forte e unido.

EMPATIA
Entendida como a capacidade do grupo de “mover juntos”; empatia é a capacidade de se relacionar a nível profundo, “de coração”, entre as pessoas. Esta parte, que completa logicamente aquela sobre a confiança, será caracterizada por exercícios que têm a finalidade de redescobrir a si mesmos na relação com os outros.

UMA VISÃO DIFERENTE DAS COISAS.
“Existem muitas coisas numa coisa só, se a finalidade é a transformação. Mas nenhuma coisa em todas as coisas, se a finalidade não for essa” (Bertold Brecht)
Durante essa parte o foco será principalmente sobre a capacidade de ver muitas coisas numa coisa só, no dar novos sentidos ao existente, no ver o que aparentemente não se nota. Isso para se conhecer melhor, para conhecer melhor o outro e a realidade em redor de nós.

TEATRO IMAGEM
O teatro imagem é uma técnica que permite teatralizar as várias situações da vida, a partir das próprias imagens corporais, elaboradas intuitivamente a partir de um tema. Essa técnica permite analisar profundamente as dinâmicas individuais e coletivas e racionalizar juntos sobre elas, buscando mudar aquelas que não gostamos.

OS CONFLITOS
A antropóloga belga Pat Patfoort no seu modelo de análise dos conflitos, os define como cada situação na qual “Eu quero – você não quer” e isso se apresenta cada vez  que exista uma relação entre pelo menos duas pessoas. O conflito em si é saudável para a relação, mas, se inserido dentro de um esquema de poder “alto – baixo” (Patfoort) pode se tornar causa de violência e de opressão.
O módulo vai tratar do tema dos conflitos na relação interpessoal e na sociedade, analisando as diferentes situações conflituosas e procurando métodos para a resolução participativa, preferivelmente não violenta.

TEATRO FORUM
O forum consiste no representar uma cena de conflito, na qual se identificam claramente os opressores e os oprimidos. Com a ajuda da condução do coringa, o público é convidado a substituir os personagens oprimidos para buscar resolver, juntos e em maneira participativa, o conflito.
Nessa maneira, além de analisar e denunciar os conflitos, as violências e as opressões, se tenta concretamente resolver essas situações de mal estar e injustiça.

O SONHO E A SUA ESTRATÉGIA
Após de ter passado por um momento de conhecimento e análise da realidade das pessoas, grupos e comunidades, o passo seguinte é de pensar num sonho de realidade possível, um “farol” para indicar a direção da mudança que queremos para as nossas vidas. É importante não se focar nos problemas para serem resolvidos e, pelo contrário, em um sonho a ser imaginado e traduzido em seguida, em uma estratégia de ação, em projetos a serem realizados. Essa perspectiva positiva, esse aprender a sonhar, cria novos espaço de conexão emotiva e de esperança para um futuro a ser realizado, na base da ética, da participação e da confiança nas nossas capacidade de ser e de fazer.
 
AÇÃO PARA TRANSFORMAR
Para tornar o sonho uma realidade concreta é necessário traduzi-lo numa estratégia concreta. Quais são os eixos que queremos trabalhar? Educação...Ecologia...Lazer...Trabalho...Família... Na base desses eixos (que ficarão como uma referencia também para futuras iniciativas) iremos pensar e realizar projetos e ações para criar desenvolvimento local em maneira participada e concreta, criando assim “ownership” , um sentimento de pertencimento dos projetos pelas pessoas envolvidas, que serão catalizadores e agentes de processos de transformação.